Virou Moda Ter Autismo?

Saúde

O autismo é assunto recorrente em todo lugar, seja nas redes sociais, séries, filmes. Virou narrativa persistente de influenciadores e até estampas de camisetas com os “quebra-cabeças coloridos”. Quando um transtorno do neurodesenvolvimento (Espectro Autista) com tamanha complexidade vira “moda”, significa que estamos progredindo para uma melhor conscientização ou somente banalizando a realidade de milhões de pessoas?

Nos anos 2000, 1 a cada 150 pessoas nasciam no espectro e agora em 2025, 1 a cada 36, mas o que de fato acontece é bem mais simples do que se imagina, a ciência evoluiu e a abrangência para o diagnóstico mudou, o que antes não era considerado autismo agora é. Antigamente somente os casos extremos eram diagnosticados, já os casos leves (nível 1 de suporte) eram rotulados como: “lerdos”, “esquisitos”, “problemáticos”, “antissociais”, dentre outros adjetivos pejorativos. Outra consideração a ser feita é sobre o surgimento de mais psiquiatras, neurologistas ou neuropediatras especializados na área, por isso o TEA passou a ser diagnosticado com maior frequência e eficácia.

Há alguns anos, termos como TEA, neurodiversidade e stimming (movimentos/sons repetitivos) passaram a fazer parte do vocabulário popular, e isso, na teoria, poderia ser considerado positivo, visto que, mais informação gera menos preconceito. A questão surge quando o autismo se reduz as características inocentes e fofinhas, superpoderes ou uma autoimagem atraente, ao mesmo tempo pessoas e famílias da vida real lutam por diagnósticos mais precisos, acesso à terapias extremamente necessárias e inclusão efetiva. 

Romantizar o Espectro não é o caminho, estamos vendo diariamente nas redes sociais vídeos de crianças no espectro “fazendo meltdown (crise emocional intensa) de modo fofo”, infelizmente isso existe. Memes sobre “ser neurodivergente é estilo” e a disseminação dos autodiagnósticos feitos em testes de TikTok criam uma distorção incontrolável e nociva. O autismo é uma condição que envolve inúmeros desafios, como desestruturações sensoriais, falta de habilidades sociais, de comunicação, até possíveis comorbidades associadas como ansiedade, depressão, déficit de atenção, distúrbios do sono, epilepsia, dentre outras. Por todos esses motivos não pode ser considerado um acessório de personalidade.

Quando o discurso não se atenta para essas complexidades, autistas em fase adulta, mulheres ou pessoas com maior necessidade de apoio que estão fora desse padrão, acabam por se tornarem invisíveis. E o que pode ser ainda pior, a moda vai passar, mas esse estigma e ausência de recursos tornam-se normalizados.

Outra situação preocupante é a banalização do diagnóstico impulsionada por algumas tendências. Existe a pressão por “rótulos”. Alguns pais, diante de comportamentos atípicos dos filhos buscam um diagnóstico rápido e precipitado (como o autismo) para explicar diferenças, desconsiderando a necessidade de uma avaliação multidisciplinar completa. O diagnóstico do TEA é clínico e comportamental, exige observação criteriosa e exclusão de outras condições. Quando essa investigação é negligenciada, há sério risco de rotular erroneamente a criança, limitando seu desenvolvimento e acesso a intervenções adequadas.

O efeito dominó não termina aí, existe ainda a banalização das terapias, que transformam essas necessidades terapêuticas em “coisas que todo mundo faz” minimizando a importância urgente das intervenções especializadas.

Enquanto o “autismo-nível 1 de suporte” vira conteúdo para redes sociais, familiares de autistas não verbais ou que apresentam crises intensas e severas continuam sem respaldo. Não existe “mais” ou “menos” autista, cada um precisará de um tipo específico de apoio de acordo com sua individualidade, mas todos precisarão de suporte.

A conscientização é fundamental e não se trata de controlar discursos, mas sim de lembrar que a mobilização pela neurodiversidade nasceu para garantia de direitos, dignidade, autoconhecimento e não para ganhar likes ou engajamento nas redes. Autismo não é adjetivo, mas uma realidade que exige respeito, não hashtags.

Se o TEA é ou está “na moda”, que essa moda seja:

  • Menos filtros e mais políticas públicas voltadas ao processo inclusivo em todos os âmbitos e apoio aos familiares adoecidos;
  • Menos viralizar nas redes sociais e mais espaço para divulgar terapias baseadas em evidências;
  • Menos frases desnecessárias como “todo mundo é um pouco autista” e mais “autistas merecem respeito à sua condição igual à todos”.

Quando você pensar em opinar sobre TEA, pergunte-se: isso vai contribuir ou apenas é mais uma tendência da moda?

E você, já percebeu como o autismo está sendo retratado por aí? Comente ou envie sua opinião.

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