Uma História de Trabalho e Amor por Porto Feliz

Entrevista
Paulo Guerini fala da sua história de vida, sobre superação de obstáculos e o trabalho da Guerini Planejamentos na cidade e na região

Ele começou a trabalhar aos 7 anos na lavoura de cana-de-açúcar, na terra arrendada por seu pai, o ex-boia-fria Waldemar Guerini. Apesar das condições de vida que não ofereciam muitas perspectivas de mudança, com muito trabalho, conseguiu transformar o rumo de uma história quase certa. Conheça a trajetória de vida de Paulo Guerini, um importante e renomado empresário local, cuja crença é baseada na fé em Deus e nos sólidos ensinamentos de sua criação humilde no campo.

Você é gente de quem?

Sou porto-felicense, gente dos Guerini da Fazenda Conceição.
Meu avô tinha o apelido de Pim Guerini. Sou filho de Waldemar Guerini e Maria Trombini Guerini. Nasci em outubro de 1955 e minha infância foi na divisa do município de Porto Feliz com Elias Fausto.
Morávamos na Fazenda Conceição, que era dos franceses, proprietários da usina. Frequentei a escolinha da fazenda, do 1º ao 4º ano. Fiz a Primeira Comunhão na igrejinha que havia lá — muito bonita, por sinal.
Na fazenda tinha cinema, armazém e, embora afastada, era muito movimentada. Raramente vínhamos para a cidade, só mesmo quando alguém da família ficava doente.

Como era a vida na fazenda?

Muito simples. Morava numa casa que não tinha nem banheiro. Minha mãe foi um exemplo de amor e carinho. Tenho lembranças muito boas e queridas dela, numa fase difícil da vida.
Nossa casa não tinha luz elétrica. O chão de tijolos precisava ser molhado para poder varrer. Lembro-me bem de que, nesse período — entre 7 e 9 anos —, eu ajudava minha mãe nos afazeres da casa, molhava a horta, cuidava dos porcos. Nossa família morava em casas bem próximas umas das outras, como numa colônia, e todos se reuniam na casa do nosso avô Pim.
Recordo-me de ir e voltar da escola com meu irmão, percorrendo cerca de 4 quilômetros tanto na ida quanto na volta, a pé, pela estrada de terra. Na volta, sempre trazia o jornal para o meu pai e uma sacola de pão. Éramos em cinco irmãos. Foi uma infância humilde, difícil, porém sempre fomos uma família unida e muito feliz. Desde muito pequeno, aos 7 anos, já ajudávamos nosso pai com os trabalhos na roça. Era um período em que as diferenças sociais no país eram bem acentuadas. Praticamente 98% da população era de origem muito pobre — a força era rural.
O que quero dizer é que hoje, na minha opinião, as diferenças sociais, graças a Deus e ao trabalho da população brasileira, são menores.

Sofreu com essa diferença de classe social?

Por causa das diferenças sociais, não. Mas fui vítima de preconceito. Sofri muito o chamado bullying.
Éramos descendentes de italianos, morávamos no sítio, bem afastado da sede da fazenda, então, quando as pessoas passavam, diziam: “Olha lá os miseráveis, italianos polenteiros.” Isso marcou muito a minha vida. Me incomodava bastante. Meu pai era muito econômico. Havia um sorveteiro que vinha de Elias Fausto e não passava pelas terras da nossa família porque sabia que não ia vender sorvete lá (risos).

Como foram os estudos?

Por conta da vida na roça, comecei o primário bastante atrasado, com quase 8 anos de idade.
Lembro-me de que era sempre o melhor aluno de uma turma pequena. Quando terminei o primário, não tinha como continuar os estudos e fiquei dois anos sem ir à escola.
Em 1969, indo para os 14 anos, o prefeito de Elias Fausto fundou o ginásio estadual na cidade e, para conseguir o número de alunos necessário para o funcionamento do ginásio, disponibilizou um ônibus velho para buscar as crianças da Fazenda Conceição.
Então, consegui dar continuidade aos estudos.
Aprendi, com isso, uma palavra que dou muito valor: incentivo. Às vezes, um pequeno incentivo pode mudar a vida das pessoas. Este gesto do prefeito mudou a minha vida e a do meu irmão.
Hoje, esse meu irmão querido é um grande obstetra em Bauru — graças a esse incentivo.

Como se formou engenheiro civil?

Fizemos o ginásio em Elias Fausto, trabalhando de dia e viajando 25 km de estrada de terra todos os dias com o ônibus velho. Em 1972, eu e meu irmão viemos para Porto Feliz, morar na casa da minha tia Zita, costureira, na Rua Olavo Assumpção Fleury. Dormimos no sofá durante dois anos. Nesse período, meu pai comprou um sítio, onde hoje é o Bepim, e nós começamos a construir uma casa, onde ele mora até hoje.
É interessante ressaltar que naquela época não havia engenheiro ou arquiteto em Porto Feliz. Então, a casa foi construída sem projeto algum, e eu trabalhei na obra durante dois anos como servente de pedreiro. Foi meu primeiro contato com o ramo da construção civil.
Nesse período, comecei a fazer o colegial no Monsenhor Seckler, à noite, e durante o dia trabalhava como servente e também puxava cana da Fazenda Conceição até a usina na cidade, ajudando meu pai.
Meu pai, que não teve oportunidade de estudar, investiu no meu futuro — e esse foi mais um incentivo que mudaria a minha vida. Fiquei seis anos sendo custeado por ele. Fiz um ano de cursinho em São Paulo, eu e meu irmão, morando numa pensão. Depois, cursei por cinco anos Engenharia Civil em Piracicaba.
Nesse período, morei em Piracicaba na casa de um casal de idosos que passaram a ser como segundos avós para mim, de tão bons que eram. Vinha para Porto Feliz nos finais de semana, visitar a família e rever os amigos. No terceiro ano do curso, já comecei a fazer pequenos trabalhos de topografia, que eu gostava muito.

Como conheceu sua esposa?

Me lembro como se fosse ontem. Eu estava próximo à Igreja Matriz e vi a Holanda passar.
Ela nem olhou para mim, mas algo me dizia que eu me casaria com aquela moça.
Sempre fui uma pessoa muito vergonhosa, acanhada… Para conseguir me aproximar da minha futura namorada, levei quase um ano para falar com ela, sempre flertando de longe.
Quando finalmente cheguei, ainda gaguejei — a fala mal saía (risos).
Foi minha única namorada e, graças a Deus, constituímos uma família muito bonita e unida, como sempre fomos. Dessa união, tivemos quatro lindos filhos: Mariana, Paulo, Pedro e João.
E, para coroar nossa vida com bênçãos, agora estamos curtindo os netos.

Como foi este começo, agora como chefe de família, com a responsabilidade de não depender mais dos pais?

Eu precisava me casar, não tinha um tostão, então pensava: como constituir família, começar minha própria vida? Estava no 3º ano da faculdade, fazia pequenos serviços, mas não era suficiente.
Nesse período, aconteceu uma coisa muito importante na minha vida: um estágio de 30 dias, nas férias, com um senhor chamado Restilde Henrique, que tinha um escritório em frente à prefeitura velha. Ele era o projetista mais importante da cidade, na época. Dessa convivência, acompanhando os trabalhos que ele fazia, acabei pegando gosto também por projetos e tive uma ideia: como eu precisava começar minha vida, conversei com meu pai, pedi dinheiro emprestado e disse que construiria uma casa num terreno que ele tinha na Rua Cardoso Pimentel.
A ideia era construir, vender e o lucro dessa venda ele deixaria para mim — assim eu começava minha vida. Eu mesmo fiz o projeto. Um amigo meu, de Piracicaba, de família de Porto Feliz — dos Piai, próximo ao Chapadão — assinava o projeto para mim. Iniciei essa casa num sábado, após o almoço, eu trabalhando como pedreiro e meu irmão mais velho, o Mase, como ajudante.
Meu pai gostou tanto da casa que não quis vendê-la. Na sequência, consegui comprar um terreno na Av. Monsenhor Seckler, com recurso dos serviços que prestava e empréstimo do meu pai, e comecei minha segunda casa. Antes mesmo de terminá-la, a vendi, comprei o lote do lado e assim comecei.
Quando me casei, em janeiro de 1982, já estava fazendo duas casas, e sempre com dinheiro emprestado. Trabalhava com dinheiro de terceiros e, para falar bem a verdade, estou até hoje assim — há 38 anos trabalhando dessa forma.
E tenho muito orgulho disso, no bom sentido, porque, normalmente, os filhos são pessoas que seguem a carreira do pai; e meu pai, na época, era agricultor e emprestava dinheiro para muita gente. Eu fiz o contrário. Entenda, não estou julgando ser melhor que ninguém, longe disso, mas tive a iniciativa de ter uma profissão diferente da do meu pai e, em vez de emprestar dinheiro para os outros — coisa que eu nunca tive — passei a emprestar dos outros para trabalhar, o que é um risco muito maior. Assim construí minha vida.

Você também foi vereador de Porto Feliz. Conte-nos sobre esse período.

Me mudei para Porto Feliz definitivamente em janeiro de 1982, ano em que me casei e, nesse mesmo ano, fui eleito vereador com uma votação muito expressiva.
Este é um ano que me traz boas recordações. Foi o ano da minha formatura, do meu casamento e da minha vitória como vereador de Porto Feliz, função que desempenhei durante 10 anos: seis anos no primeiro mandato e quatro no segundo. Trabalhei com o prefeito Tenente Genésio e, depois, com Erval Steiner.
Nesse período, tive um escritório pequeno na Rua Altino Arantes. Depois de um tempo, me mudei para a Avenida Monsenhor Seckler, onde montei um escritório ao lado da minha casa.
Ainda tive muita ajuda do meu pai e da minha mãe. Ninguém faz milagre sozinho — se você não tiver um incentivo, fica difícil seguir adiante.

Como era Porto Feliz nessa época?

Sempre tive um amor muito grande por Porto Feliz. Cresci ouvindo as pessoas falarem mal da cidade — que essa cidade não presta, que essa cidade não vai pra frente, que a Usina não deixava vir empresas pra cá. Eu nunca falei mal de Porto Feliz. Sem querer ser melhor que ninguém, eu já tinha enxergado, nesse período, que o Brasil é um país pobre e, para trazer uma grande empresa a uma cidade como Porto Feliz, não era tão simples assim. Discordo das pessoas que diziam que a Usina e a Fábrica de Tecelagem prejudicaram o desenvolvimento de Porto Feliz. Aprendi uma lição na vida: para gerar emprego e oportunidade, só existe uma forma — e é através do investimento. A economia do país estava travada, então, dificilmente uma empresa grande viria para Porto Feliz naquela época.

Em toda sua vida, sempre trabalhou por conta própria?

Sempre trabalhei duro, porém, nunca me senti confiante para procurar emprego, o que praticamente me obrigou a me virar por conta própria. Tive escritório, tive uma pequena atividade rural — plantava milho, mandioca, feijão… fazia um pouco de tudo, media terras, e fui vereador.

Fez uma boa vereança?

Tive o prazer de legislar ao lado de grandes nomes da cidade, dos quais cito: Nelson Moraes, Roberto Prestes, Ivan Leite, Geraldo Tuani, Cássia Angelieri, Xuxo Alcalá, o finado Roque Ambrosini, Jordão Bíscaro, Hélido Tuani, entre outros. Eu tinha 27 anos de idade quando ingressei na política e, nela, assumi uma postura de oposição muito severa contra o Tenente Genésio Leandro Vieira, prefeito na época — hoje um grande amigo. Se eu pudesse voltar no tempo, não faria daquela forma; teria ajudado mais o prefeito do que criado tantos atritos.
É importante a população saber que, quando o vereador é eleito, passa a dedicar boa parte da vida aos trabalhos da vereança e acaba se envolvendo demais com os problemas da população, deixando em segundo plano os trabalhos pessoais, a família…
E o trabalho do vereador não é só ir às sessões da Câmara — é o dia a dia de receber pessoas, conversar sobre os problemas delas. E isso é algo que desgasta muito.

Pensou em ser prefeito?

Teve uma época em que eu gostaria, sim.

Por que deixou a política?

Na verdade, em determinado momento, cheguei à conclusão de que poderia ajudar mais sendo empresário do que como prefeito. Gostaria de esclarecer que ser prefeito de uma cidade não é tão simples como a população pensa. O cargo exige muito da pessoa — muita dedicação, muito trabalho, muito empenho. Na maioria das vezes, ele deixa de viver sua própria vida para viver a vida da população. Uma coisa que quero deixar como mensagem aos leitores desta revista é: a gente deve procurar, dentro do possível, ajudar o município; contribuir de alguma forma para melhorar a cidade e colaborar com a prefeitura — e não apenas esperar que tudo venha dela. Se a maioria das pessoas pensasse assim, teríamos uma cidade mais limpa e organizada. Então, quando deixei a política, em 1993, passei a me dedicar mais aos projetos pessoais, sem egoísmo algum, mas com uma visão voltada para toda a população. Senti que minha vida tomou um rumo abençoado por Deus. Construí inúmeras casas, fiz projetos de graça para muita gente e, daquele pequeno projeto de construir uma casinha para lucrar com a venda e poder me casar, há 38 anos, com muita dedicação e trabalho, nasceu o primeiro loteamento, em um terreno na Av. Dr. Antônio Pires de Almeida, chamado Residencial Porto Feliz, que consolidou todo o esforço e persistência naquilo que sempre acreditei.

O Residencial Porto Feliz foi o primeiro loteamento que alavancou a Guerini Planejamentos?

Na verdade, o primeiro loteamento com o qual tive contato foi o Bepim, que era um sítio do meu pai. Eu ainda não era formado, mas acabei fazendo todo o projeto. Meu pai fez uma parceria com uma empresa de Cerquilho para a implantação. Inclusive, o nome Residencial Bepim foi uma homenagem que fiz ao meu avô, que era conhecido por Pim, e ao antigo proprietário daquelas terras, Bepe Cossari. Assim, juntei os dois nomes: Bepe + Pim = Bepim. Depois disso, fiz vários loteamentos: o Belo Alto, a Chácara Nestor, o Tendá… Mas o loteamento que mais projetou a Guerini Planejamentos na questão da urbanização foi, sem dúvida, o Portal dos Bandeirantes.

Como foi construir um empreendimento tão audacioso para Porto Feliz, num período em que a cidade apenas começava a pensar em crescimento?

Para construir o Portal dos Bandeirantes, novamente, eu não tinha dinheiro. Me lembro que eu e o Walter Xavier — o Wartão, grande amigo meu — fomos a São Paulo para tentar comprar aquela área.
Chegando lá, conversamos com os donos, com o advogado da empresa… até que, em certo ponto, eles disseram que era melhor irmos embora, pois não tínhamos dinheiro para comprar aquelas terras. Dispensaram a gente na lata (risos).
Inclusive, aconteceu um caso engraçado logo depois: saímos de lá desnorteados, o Walter estava muito chateado porque viu a comissão dele indo pro beleléu (risos). Fomos a um shopping próximo comer alguma coisa. Compramos um lanche no McDonald’s e, quando peguei a bandeja, me virei e acabei esbarrando numa senhora — caiu tudo no chão (risos). Foi uma situação muito engraçada.
Bom, passados alguns dias, acabei conseguindo emprestar dinheiro. Voltei lá, fiz uma oferta pagando à vista e acabei comprando a área.
Devagarzinho, fomos implantando o loteamento Portal dos Bandeirantes, que foi uma verdadeira quebra de paradigma na cidade. Na época, me lembro de que algumas pessoas perguntavam por que eu queria fazer um loteamento fechado, sem nenhuma pesquisa de mercado, sem estudo de público, sem nada… e mesmo assim, fiz.
Hoje, é um empreendimento que há mais de 20 anos gera emprego para muita gente — pedreiro, encanador, eletricista, segurança, jardineiro…

E o senhor acreditava que a cidade tinha o perfil de morador para esse empreendimento?

Acredito que, se tivesse feito uma pesquisa, talvez nem tivesse realizado o loteamento — e a cidade teria perdido um grande avanço. Me considero uma pessoa muito limitada, limitada em termos culturais, em QI, propriamente dito, mas me vejo também como alguém com um lado muito bom no que diz respeito à iniciativa, ao espírito empreendedor e à capacidade de acreditar. Acreditar em quê? No trabalho e na justiça.
Sempre digo para os meus filhos — e para os amigos também: sigam os ensinamentos de Jesus Cristo. E quais são esses ensinamentos? Humildade, justiça, trabalho, perdão, solidariedade, fraternidade, sinceridade, e, acima de tudo, o amor — que é o mais importante.
Por que estou dizendo isso? Porque são valores que, se você seguir, vão te ajudar a superar qualquer obstáculo da vida e te tornar uma pessoa realizada.

Nesta fase da vida, o senhor se considera uma pessoa realizada?

Sim, eu me considero uma pessoa realizada no trabalho, na família, porque sempre tive Deus no coração. Sempre acreditei no meu trabalho, nas pessoas e na cidade. E por acreditar em Porto Feliz — espero que as pessoas compreendam bem isso, sem prepotência —, eu me sinto uma pessoa escolhida por Deus para lutar em favor do desenvolvimento da cidade.
Sempre acreditei que Porto Feliz tinha potencial, e junto com a população, com a prefeitura e com a câmara municipal — seja na época do prefeito Cláudio Maffei, do prefeito Levi Rodrigues, e agora com o prefeito Dr. Cássio — sempre tive muito apoio dessas instituições e da população. Esse apoio foi fundamental para que eu tivesse coragem de continuar, de me esforçar para atrair empresas e ajudar a cidade a crescer.

Qual o segredo do sucesso, não só pessoal, como profissional?

Acredito que todo projeto feito com a intenção de melhorar a vida das pessoas já nasce abençoado por Deus. Sempre procurei fazer com que minha vida valesse a pena. Sempre falo: “faça sua vida valer a pena”. E como se faz isso? Não olhando só para o próprio umbigo, mas, principalmente, olhando para a comunidade. Fazendo projetos que gerem empregos, progresso, arrecadação de impostos — tudo isso que ajuda não só o município, mas também o Estado e o país.
Infelizmente, nem todos pensam assim. Peço até licença para parecer um pouco arrogante, mas vejo que, no Brasil, existem dois grupos de brasileiros: um grupo que passa os dias se perguntando o que o município, o Estado ou o Governo Federal podem fazer por eles.
E outro grupo que passa os dias se perguntando o que eles podem fazer pelo país. Eu pertenço a esse segundo grupo. O Brasil precisa de gente que vista a camisa, que entenda, por exemplo, que não dá pra se preocupar só em se aposentar cedo, pois o governo não tem como sustentar isso. Acredito que, primeiro, devemos pensar no que podemos fazer de bom pela nossa comunidade e pelo nosso país e, depois, no momento certo, pensar na aposentadoria. Não existe segredo. O que existe é trabalho e força de vontade — não apenas querer fazer, mas ir atrás, buscar realizar.

A gente percebe que a Guerini Planejamentos tem uma visão diferenciada da maioria dos empresários locais, especialmente dos comerciantes, no sentido de preparar o produto, se preocupar com sua aparência e apresentação muito antes de colocá-lo à venda. Essa visão é o que faz da empresa o sucesso que é, em relação ao retorno dos seus produtos?

Sempre apoiei meus projetos em três pilares:
1º – que sejam de interesse da comunidade onde estão inseridos;
2º – que gerem progresso e desenvolvimento;
3º – e, em terceiro lugar, o retorno financeiro.
Isso responde à questão: ou seja, não coloco o dinheiro em primeiro lugar.

Essa visão empresarial, unida ao trabalho das instituições governamentais locais e da população, é o que beneficia Porto Feliz em relação às demais cidades da região, especialmente quando vemos muitos investimentos de multinacionais se instalando no município?

Sem dúvida. Com essa visão — veja bem, Porto Feliz concorrendo com outras boas cidades da região, que têm um desenvolvimento industrial bem maior que o nosso — nos últimos anos conseguimos, Guerini, população, prefeitura e câmara, trazer para Porto Feliz a fábrica de motores da Toyota, a Cooper (uma multinacional americana), a TPr (outra multinacional japonesa), e a Sarstedt, multinacional alemã que está iniciando a implantação ao lado da Capela São Pedro, contribuindo para o desenvolvimento tecnológico na área da medicina no Brasil, sendo a primeira empresa do ramo no país. Também conseguimos trazer, na rodovia Castello Branco, uma multinacional francesa, a Sodebô, além do recente Centro de Distribuição de Peças da Toyota, com o apoio do prefeito Dr. Cássio. Nessa empreitada, vi o empenho do prefeito Cássio e da prefeitura, e, se não fosse por esse empenho, a cidade não teria conseguido. Esse mesmo empenho e trabalho sério vi também nas gestões de Maffei, Levi e agora nesta administração. Por isso, digo que Paulo Guerini, ou melhor, a Guerini Planejamentos, não fez nada sozinha. Todas essas importantes multinacionais escolheram Porto Feliz graças aos esforços de todas as esferas, não somente pela localização da cidade na região e pela sua água, mas pelo trabalho digno por trás de cada conquista.

Quando a Guerini Planejamentos começou a investir de forma mais abrangente no desenvolvimento da cidade, não se limitando apenas a construir condomínios residenciais?

Quando começamos a fazer loteamentos, percebemos a necessidade de trabalhar com desenvolvimento urbano de forma mais ampla, o que envolve também as indústrias. Meu primeiro contato para tentar trazer uma indústria para a cidade foi quando eu era vereador. Naquele período, a cidade doou o terreno onde hoje está o Distrito Industrial, no Km 99 da Rodovia Castello Branco, mas, mesmo assim, foi muito difícil atrair indústrias para Porto Feliz.
Naquela época, não havia nenhuma empresa capaz de fazer a ponte entre as necessidades dos investidores e do município. Com a parceria de uma empresa privada — a Guerini Planejamentos, humildemente ajudando a cidade —, anos depois, esse processo se tornou mais viável.

Quais foram os investimentos que a Guerini Planejamentos realizou para o setor industrial?

O primeiro loteamento industrial que fizemos foi em Tatuí, em 1999, chamado Centro Industrial de Tatuí. Depois, em 2006, nasceu o Portal Castello Branco, em Boituva. Em Porto Feliz, o primeiro loteamento industrial foi criado há cerca de cinco anos, onde hoje estão instaladas a Toyota, a Eaton (antiga Cooper) e a Sarstedt, na Rodovia Marechal Rondon.
Além desse loteamento, temos outros quatro empreendimentos industriais em Porto Feliz: um em frente ao Portal dos Bandeirantes 2 e ao Flamboyant, onde hoje está instalada a TPr; outro platô pronto com acesso no km 20 da Rodovia Dr. Antonio Pires de Almeida; e um complexo com dois platôs prontos em frente aos novos acessos da Shinoda e da torre de telefonia, na altura do km 17 da mesma rodovia (SP-097).
Por fim, há outro importante complexo no km 97 da Rodovia Castello Branco, onde viabilizamos e implantamos um acesso que possibilitou a instalação da TPr e da Sodebô, que ainda será implantada.
É muito difícil para uma prefeitura, sozinha, conseguir trazer indústrias; e o contrário também é praticamente impossível. Uma empresa do setor privado, sem a parceria da prefeitura, da câmara e o apoio da população, não consegue se estabelecer.
Por isso, hoje a Guerini trabalha preparando todo o terreno, implantando infraestrutura, melhorando o entorno, e resolvendo questões burocráticas e ambientais para que o investidor encontre uma área pronta para se instalar, sem preocupações que possam dificultar a vinda da indústria.
Assim, conseguimos viabilizar a chegada de cinco multinacionais a Porto Feliz nos últimos cinco anos.

Existe um masterplan, um plano-máster, para tudo isso ou essas implantações são feitas de forma aleatória? Qual a visão do Paulo Guerini para a região nos próximos 10 anos?

Sempre procurei fazer projetos que não prejudiquem o entorno. Por exemplo, a Toyota da Marechal Rondon está em um local estratégico em relação às demais plantas da marca, como a de Indaiatuba e a da divisa de Sorocaba. Na direção da Castello Branco, enxergo áreas com grande potencial para desenvolvimento industrial, devido à logística e ao escoamento da produção.
Quanto à previsão para o futuro, acredito que uma caminhada de 100 quilômetros começa com o primeiro passo. Até pouco tempo atrás, Porto Feliz não tinha quase nenhuma importância industrial. Contudo, nos últimos anos, melhoramos nosso parque empresarial, somando empresas locais consolidadas, como a Longa e a Schadek, entre outras.
Meu objetivo é transformar Porto Feliz em um grande centro de desenvolvimento tecnológico, logístico e empresarial. O município é extenso territorialmente, comparado a Sorocaba, e possui uma população relativamente pequena. Isso nos dá recursos importantes, tanto em reservas naturais quanto em áreas com excelente topografia. Tenho um carinho e um amor muito grandes por Porto Feliz, Boituva e região, e o diferencial da Guerini é não medir esforços para desenvolver nosso município.

Dito isso, o projeto de um aeroporto em Porto Feliz ainda é um sonho possível?

Tenho um projeto de desenvolver algo maior: uma nova Porto Feliz com o conceito de sustentabilidade. Ou seja, uma cidade planejada com amplas avenidas, valorização das áreas de preservação permanente (APP), preservação e recuperação das nascentes, tratamento de esgoto de ponta, reuso de água, lançamento de esgoto tratado no rio, uso de energia solar e eólica…
Enfim, não sabemos quanto tempo ainda nos resta, mas, enquanto houver vida, vou lutar para gerar emprego, progresso e desenvolvimento com responsabilidade social. Não levamos nada desta vida, mas o que fazemos fica para sempre como exemplo. E é nesses exemplos que continuamos vivos.

Há uma pergunta que todos gostariam de saber: o que de fato aconteceu para que o Paulo Guerini levasse sua empresa para Boituva?

Aprendi uma lição: quando a vida apresenta um obstáculo muito grande, você transforma esse obstáculo em algo positivo. O que ocorreu foi, mais ou menos, o que acontece no kung-fu: quando alguém vem para agredir você com toda a força, você usa essa força a seu favor.
Quando Dr. Léo foi prefeito de Porto Feliz, ele literalmente fechou as portas para mim na cidade. Quero deixar claro que tenho um enorme respeito por ele, mas, na época, ele entendeu que não deveria me permitir fazer nada na cidade. Isso foi um obstáculo muito grande, motivo pelo qual fomos para Boituva, no ano de 1997.
Chegando lá, tivemos um grande apoio da cidade, da prefeitura e da câmara municipal — o prefeito da época era Edson Marcusso, que é de Porto Feliz. Fizemos um trabalho muito bonito em Boituva: foram 12 loteamentos em 20 anos. Construímos escolas, mudamos o local do fórum, implantamos e duplicamos avenidas, transformamos Boituva, essa cidade que nos acolheu de braços abertos.
Por isso digo que, sem essa parceria entre população, setor privado, prefeitura e câmara, o progresso não acontece. E uma coisa que nunca falei na minha vida foi “eu fiz”, sempre disse “nós fizemos”.

Para finalizarmos, a pergunta que não quer calar: quem trouxe a Toyota para Porto Feliz?

Foi a população da cidade, a Prefeitura do Município de Porto Feliz, a Câmara Municipal e a Guerini Planejamentos. Não vou citar nomes, pois muitas pessoas se dedicaram intensamente para a vinda desta e de outras indústrias.
Mas, respondendo de forma mais objetiva, quem realmente trouxe a multinacional Toyota para a cidade foram os japoneses.

Entrevista publicada na Revista BemPorto Ano 4 > n. 38 > julho | 2017

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