A voz da cidade, o coração da praça
Em cada esquina de Porto Feliz ecoam memórias de uma época em que a vida pulsava mais lentamente, em que os encontros aconteciam ao som de músicas pedidas com timidez e ternura. No centro dessas lembranças está Romualdo Crocco, o homem cuja voz embalou amores, narrou vitórias e fortaleceu laços em uma comunidade inteira.
Na década de 1950, enquanto os jovens desfilavam em círculos pela Praça da Matriz em busca de encontros e olhares furtivos, eram os autofalantes de Crocco que davam o tom desses momentos. Suas seleções musicais transformavam simples passeios em cenas inesquecíveis. De sua cabine improvisada, atendia aos pedidos apaixonados, dedicando canções a casais que, muitas vezes, davam seus primeiros passos no amor ali mesmo, ao som da sua voz.
Foi dessa paixão pela comunicação que nasceu a Rádio Emissora Porto-felicense, da qual Crocco foi fundador, locutor e apresentador. Ali, consolidou-se como um dos grandes nomes da radiodifusão regional, sendo também o primeiro correspondente local da Rádio Jovem Pan. Com espírito inquieto e sensibilidade apurada, atuou como cronista esportivo, narrando com emoção os feitos do esporte local e mantendo viva a chama da rivalidade sadia e do orgulho porto-felicense.
Mas Romualdo Crocco foi muito mais que um radialista: foi um verdadeiro símbolo da participação cívica e cultural da cidade. Fundador e presidente da Liga Portofelicense de Futebol, presidente e diretor da Corporação Musical União e criador do Grupo Raízes da Melhor Idade, dedicou a vida à construção de espaços de convivência, cultura e pertencimento. Era chamado com carinho de “o Cupido da Praça Matriz”, não só pelo microfone romântico, mas por seu compromisso com o bem-estar coletivo.
Nascido em Mombuca, filho de pais italianos, Romualdo chegou ainda criança a Porto Feliz, onde enraizou sua história com amor e dedicação. Casou-se com Maria de Lourdes Sampaio Crocco, com quem teve seu filho, Dirceu Romualdo Sampaio Crocco. Trabalhou com dignidade e empenho como funcionário da Usina de Açúcar, gerente do Banco de Crédito Popular e colaborador da Prefeitura Municipal.
Romualdo Crocco faleceu em janeiro de 2007, aos 88 anos, deixando um legado que transcende sua voz nos alto-falantes. Ele permanece vivo no coração de quem dançou ao som das suas músicas, nos campos que ecoaram seus comentários, e nas instituições que ajudou a construir com tanto amor e dedicação.
Sua vida é um tributo à força da comunicação, da cultura e do comprometimento comunitário. Um homem que uniu gerações com sua voz e deixou, para sempre, marcada a melodia da sua presença na história de Porto Feliz.