Gestar é gerar uma nova vida e não há nada mais grandioso. É um processo profundo, íntimo e, muitas vezes, silencioso de transformação física, emocional e identitária. O corpo da mulher se expande, se adapta, se molda a uma nova existência que cresce dentro dela. Mas, junto com a beleza da maternidade, existem também os desafios, e é sobre eles que precisamos falar com mais naturalidade, empatia e acolhimento.
Do ponto de vista físico, a gestante enfrenta mudanças que afetam todos os sistemas do corpo: a postura muda, a pelve se alarga, os ligamentos se afrouxam e se estiram, a musculatura do assoalho pélvico sofre grande sobrecarga, os órgãos precisam se adaptar, os músculos abdominais se alongam, o centro de gravidade se desloca. Não raro, surgem dores nas costas, nas pernas, na região pélvica; mais idas ao banheiro, há desconforto para dormir, dificuldade para se movimentar e, em muitos casos, uma sensação de não “reconhecer” o próprio corpo.
Mas o gestar também é emocional. É comum que a mulher passe por momentos de medo, ansiedade e insegurança, afinal, ela está vivendo o desconhecido. São inúmeras dúvidas: “Serei capaz?”, “Meu corpo vai voltar ao normal?”, “Como será o parto?”, “Serei uma boa mãe?”. Tudo isso enquanto ela continua a trabalhar, cuidar da casa, dos outros… E, muitas vezes, esquecem de perguntar: “E você, como está?”
Como fisioterapeuta pélvica, convivo diariamente com mulheres que se sentem sobrecarregadas, que não sabem se é normal sentir dor, que têm vergonha de falar sobre incontinência urinária ou dor na relação sexual, que não sabem que existe cuidado especializado para esse momento.
A boa notícia é que é possível viver uma gestação com mais consciência, menos dor e mais conexão. A fisioterapia pélvica não apenas alivia sintomas físicos, como também fortalece o vínculo da mulher com seu corpo e com a vida que ela está gerando. Prepara para o parto, previne complicações e, acima de tudo, valoriza o protagonismo da mulher nesse processo.
Precisamos desromantizar a gestação, não para tirar sua beleza, mas para dar espaço à realidade. E ela é complexa, cheia de nuances, feita de descobertas e desconstruções. Olhar para isso com respeito é um ato de cuidado. Cuidar da gestante é cuidar da mulher. E, ao cuidar da mulher, cuidamos de toda a rede de vida que se forma a partir dela.