Uma Vida Costurada em Amor
Maria Angélica Ortiz nasceu em 22 de dezembro de 1924, em Cabreúva, filha de Pedro Ortiz dos Santos e Francisca Trigo. A vida lhe apresentou cedo suas primeiras provações, e, após o falecimento de sua mãe, mudou-se com o pai para Porto Feliz em 1962. Foi ali que começou a escrever, com gestos de cuidado e generosidade, a história que marcaria para sempre a cidade.
Como enfermeira no Hospital Bezerra de Menezes, o querido “Hospital do Grilo”, Dona Angélica, como todos a chamavam, serviu por quatro anos. Era conhecida pela solidariedade que ultrapassava as paredes do hospital: ia às casas das pessoas aplicar injeções sem cobrar nada, movida apenas pelo desejo de aliviar a dor alheia. Cuidar era, para ela, um chamado.
Depois de deixar o hospital, descobriu novas formas de expressar sensibilidade: dedicou-se à pintura, ao desenho e aos bordados, transformando o cotidiano em arte. Em 5 de dezembro de 1969, mudou-se com o pai para a recém-criada Cidade dos Velhinhos, antes mesmo de sua inauguração. Ali encontrou um novo lar e uma nova missão.
Durante 13 anos, foi presença indispensável na administração e na enfermaria da instituição. Após o falecimento de seu pai, em 1982, passou a morar com os sobrinhos, para quem se tornou não apenas tia, mas figura materna, orientando e participando ativamente da educação de cada um.
Em 1984, aceitou o convite do Sr. José Carlos Moreno de Souza para administrar a Casa das Crianças. Serviu ali com a mesma dedicação até que a saúde a obrigou a se afastar cinco anos depois. Em 1991, retornou à Cidade dos Velhinhos a convite do Sr. Fernando Simioni e do Sr. Odilon Antonio, retomando seu papel fundamental na administração da entidade, sempre como voluntária, sempre por amor.
Mesmo quando o corpo já não respondia como antes, o coração permanecia incansável. Em seus últimos anos, passava as tardes na sala de costura, onde confeccionava roupas para os internos, costurando também, silenciosamente, gestos de carinho que permaneceriam na memória de todos.
De espírito leve e voz que confortava, Dona Angélica carregava uma frase que se tornou um abraço para muitos: “Não há de ser nada, no final dá tudo certo.” E assim ela vivia, acreditando no bem e fazendo-o florescer onde passava.
Em 2011, recebeu o Título de Cidadã Porto-felicense, homenagem entregue pelo então vereador Armando Ambrósio Sobrinho, que reconheceu oficialmente aquilo que a cidade já sabia: Maria Angélica Ortiz era parte viva de sua história.
Ela partiu em 23 de fevereiro de 2012, aos 88 anos, deixando um legado de humanidade, serviço e amor ao próximo que continua inspirando aqueles que conhecem sua trajetória. Uma vida inteira dedicada ao outro e que, por isso mesmo, permanece eterna.

