O rebaixamento dos padrões intelectuais impostos pela sociedade contemporânea é cada vez mais evidente, não apenas no marketing (que é a minha praia), hoje entregue à inteligência artificial já quase sem mediação humana real, mas também em outras áreas criativas e culturais, como a arquitetura. O que se observa é uma lógica cada vez mais superficial, padronizada e desprovida de contexto. O que antes era fruto de estudo, técnica e identidade foi reduzido a cópia, fórmula e pressa.
Houve um tempo em que o profissional buscava compreender o ser humano em sua complexidade. Investigava o entorno cultural, os hábitos locais, os fatores históricos e até as crenças que moldavam o consumo e os espaços. Criar envolvia técnica, sensibilidade e respeito pela diversidade. Hoje, esse olhar investigativo vem sendo substituído por automatismos travestidos de eficiência: “fórmulas mágicas”, templates, prompts e métricas. É o esvaziamento do pensamento crítico, a substituição da análise por achismos, da estratégia por tendências passageiras, do conteúdo com propósito por postagens obedientes a cronogramas engessados. É Deus no céu é a IA na terra. Oremos!
No marketing, a criatividade virou estatística de engajamento. O objetivo já não é mais conectar marcas a pessoas, mas agradar algoritmos. A arquitetura, que já representou de forma autêntica os contextos regionais brasileiros, agora também se curva ao mesmo processo de empobrecimento estético: casas que parecem ter sido projetadas por inteligência artificial: genéricas, repetidas, sem alma.
Essa padronização nos dois campos (marketing e arquitetura) é reflexo direto de uma sociedade que passou a valorizar a velocidade, a viralização e o sucesso imediato, mesmo que isso custe a perda da identidade. A criatividade foi automatizada, o pensamento crítico terceirizado. Estamos nos acostumando a criar sem contexto, sem alma, sem inteligência cultural. É a robotização do sensível.
A imagem que viraliza é como a casa que impressiona na planta renderizada: ambas são rasas e não resistem ao tempo. O conteúdo que circula e os espaços que habitamos estão sendo moldados para satisfazer sistemas automatizados; não para tocar, abrigar ou transformar pessoas. O resultado é uma cultura cada vez mais pobre, uniforme e esquecível.
O emburrecimento, portanto, não é apenas um efeito colateral: é o sintoma de um abandono coletivo da profundidade. Quando trocamos a técnica pela sorte, o estudo pela tendência, e o pensamento crítico por atalhos algorítmicos, deixamos de evoluir como sociedade e passamos apenas a reproduzir, exatamente como as máquinas. Bendita pressa!
Se quisermos reverter esse processo, será necessário recuperar o olhar profundo. Trazer de volta a complexidade às campanhas que criamos, às cidades que projetamos e às histórias que escolhemos contar. Só assim será possível resgatar a inteligência (não artificial) da nossa cultura.