Dulce Viegas Pereira

Biografia

A Tecelã do Amor

Há vidas que não apenas passam pela história, mas a bordam, fio a fio, com propósito, entrega e luz. A de Dona Dulce Viegas Pereira é assim. Aos 99 anos, ela segue sendo um farol de vitalidade, espiritualidade e compromisso com o bem, provando que envelhecer é, também, um ato de iluminar gerações.

Nascida em Bica de Pedra, hoje Itapuí, interior de São Paulo, mudou-se ainda menina para a capital, onde descobriu cedo o valor da educação. Formou-se em Ciências Sociais, especializou-se em Psicologia Educacional e atuou como professora, formadora de lideranças e servidora da antiga FEPASA, capacitando profissionais e abrindo caminhos. Uma mulher à frente de seu tempo, guiada pela disciplina e pela sensibilidade humana.

A aposentadoria, para muitos, seria um ponto final de uma vida dedicada ao trabalho. Mas, para Dona Dulce, foi o início de uma nova primavera. Mudou-se para Porto Feliz em 1987 com o marido, seu grande parceiro de vida. Mãe de cinco filhos, Dona Dulce sempre conciliou sua vida familiar com uma profunda vocação para o trabalho social. Foi nesta etapa da vida que conheceu o tear: uma arte milenar que tocou profundamente sua alma. Assim, encontrou no tear, no crochê e no tricô um canal de expressão, afeto e doação. Suas mãos transformam fios em arte e acolhimento. Tapetes, mantas, passadeiras, caminhos de mesa, jogos americanos… Cada peça carrega a delicadeza e a grandeza de sua intenção: ajudar sem olhar a quem.

Espírita kardecista há mais de 40 anos, Dona Dulce sempre fez da caridade seu ofício mais silencioso. Parte significativa de sua produção artesanal foi doada a bazares beneficentes, apoiando instituições como o Centro Espírita André Luiz, a APAE de Porto Feliz, a Cidade dos Velhinhos e o Instituto Acreditar. Seu trabalho, porém, transcende o material: acolhe, consola e fortalece. Mesmo após a perda do esposo, a senhora quase centenária ainda segue firme em sua missão espiritual, recebendo em sua casa pessoas que procuram uma palavra amiga, um direcionamento ou apenas um pouco da serenidade que ela transmite com tanta naturalidade.

Sua generosidade também reverberou na cultura. Entre 2015 e 2016, abriu a edícula de sua casa para sediar a primeira Casa do Hip Hop de Porto Feliz, oferecendo espaço para jovens, artistas e lideranças da periferia. Um gesto simples que transformou vidas e revelou sua visão inclusiva e sua capacidade rara de reconhecer valor no outro e de apostar no futuro.

O legado de Dona Dulce está entranhado na cidade e no coração de quem cruza seu caminho, nos fios entrelaçados das artes manuais, nas palavras que acalmam, nas instituições que fortalece, nas gerações que inspira. Sua vida é um lembrete poderoso de que idade não limita o propósito; ao contrário, o expande. E seu exemplo prova que o envelhecimento pode ser ativo, luminoso e pleno de sentido.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *